O Lugar dos Mortos – Antes, Agora e Depois – Parte 1

Série: “Ressurreições” – VIII

Texto: Sergio de Souza

Hebreus 6:1-2

1 Por isso, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até à perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus,

E da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno.

O homem que foi o escritor  da carta aos Hebreus (lembre-se que o Autor, de toda a Bíblia, é o Espírito Santo), escreve sobre os rudimentos (elemento básico; coisa em estado primitivo; parte inicial de; primórdio; conhecimento ou noção primeira, elementar, geral e superficial; primeiras noções de uma arte ou ciência) da Doutrina de Cristo, ou seja, os conhecimentos básicos que TODOS os cristãos deveriam ter e enumera alguns deles e, dentre eles, está a Ressurreição dos Mortos, por nós tratada na seção Ressurreições, deste blog, em alguns artigos (e virão outros).

O que isso significa? Que todos nós deveríamos saber, pelo menos, esses rudimentos. Todos sabemos? Sabemos todos? Se não, por que não sabemos? Falta de interesse? Falta de ensinamento? Proibição de ensinamento?

Enfim, não importa o motivo. Fato é que desde antes desse blog existir, estávamos inconformados com a falta de ensino a respeito desses rudimentos, e a pergunta era: “por que as igrejas pregam sobre coisas fugazes, temporárias, materiais e não se interessam em, por exemplo, falar sobre Pecado, Salvação, Fim dos Tempos, etc.”?

A Teologia que deveria nos conduzir a um melhor entendimento da Palavra, interpreta a Bíblia conforme as conveniências, políticas, dos “Pais da Igreja” e da própria liderança da “Igreja” (Política) e, por isso, criam um modelo e declaram hereges aqueles que não aceitam a conformação da Palavra aos interesses políticos de pessoas mais interessadas em validar a concepção de seus mestres do que em seguir o que diz a Palavra.

Mas isso, talvez, seja assunto para uma nova seção do blog. Agora, nos compete continuar no principio rudimentar da “Ressurreição dos Mortos” (Hb 6:2) e, neste artigo discutiremos onde ficam esses mortos depois de abandonarem seus corpos mortais.

E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. – 1 Tessalonicenses 5:23

Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. – Hebreus 4:12

A discussão entre Dicotomia e Tricotomia é muito extensa e não caberia nesse artigo (exigiria, talvez, mais uma seção – ufa – no blog… ou, quem sabe, em outro de nossos blogs, mais apropriado para essas discussões, o www.bereanos.net), mas partindo do princípio de que espírito e alma – imortais -, se separam do corpo – mortal -, quando ocorre o evento da morte, o corpo vai para a sepultura (Qéver – Hebraico; Qabr – Aramaico; Táphos – Grego), (“[…] és pó e ao pó tornarás” – Gn 3:19). Mas para onde vão a alma e o espírito? Para um lugar ainda mais baixo?

A semente da confusão foi lançada quando Jerônimo, no final do século IV, traduziu as Escrituras (Septuaginta – que é a tradução do Antigo Testamento, escrito originalmente em Hebraico e Aramaico, para o Grego – mais o NT, escrito em Grego Koiné), do Grego para o Latim, e usou o termo  latino, pré-cristão, Infernum, que quer dizer “Lugares Baixos”, jogando todos os termos das línguas originais “no mesmo balaio”. As traduções da Vulgata Latina, de Jerônimo, para outras línguas na Europa, África, Ásia, e nas Américas seguiu a confusão e ficou difícil, sem consultar os originais, entender quem é quem (ou qual é qual, uma vez que falamos de lugares).

Então, quando dizemos que alguém, depois de morto, por não ter se rendido a Cristo, não ter se arrependido, vai para o Inferno, cometemos um erro crasso (leia a história de Marco Licinius Crasso, o primeiro a cometer um “erro crasso”).

Então, temos que saber quais são os termos que as Escrituras, em suas línguas originais, usam para nomear os diversos lugares para onde vão as pessoas, desde o primeiro a morrer em toda a história da humanidade, até o último. Vamos a eles:

No Antigo Testamento

De antemão, sabemos que o Antigo Testamento, embora em termos de separação de livros, termine em Malaquias, em termos práticos isso não é verdade, pois um Testamento, só pode ser posto em execução depois da morte do testador, que aconteceu no fim de cada “Evangelho” (veja artigo a respeito, em nosso outro blog – Bereanos.net), com a crucificação e a morte de Jesus. Em termos práticos, então, o Novo Testamento começa com a crucificação e morte de Jesus.

Isto posto, sabemos que no Antigo Testamento, ou seja, antes da crucificação e morte de Jesus, o Messias ainda não viera e/ou não fizera o seu sacrifício e ninguém poderia “fiar-se” em seu sacrifício consumado, e a Lei era de que deveriam ser feitos sacrifícios de animais para expiação da culpa. A efetividade desses sacrifícios não estava neles mesmos, nas na (“pela Graça sois salvos, mediante a “) de que viria o Redentor, prometido desde Gênesis 3:15 (e muitas outras profecias messiânicas, posteriores, a respeito), e que Ele eliminaria essa necessidade de sacrifícios e faria o sacrifício definitivo.

E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. – Gênesis 3:15

Sheol e Hades

Pois não deixarás a minha alma no inferno (Sheol, no original), nem permitirás que o teu Santo veja corrupção. – Salmo 16:10

Sheol (hebraico) era o lugar de consolo, para os que tinham a FÉ na vinda do Messias; ou de tormentos, para os que não nutriam essa esperança e para os que viviam em conformidade com os seus deleites. A divisão entre esses dois pontos do mesmo lugar, o Sheol, era feita por um “grande abismo“, ou seja, quem estava no lugar de consolo não poderia ir para o lugar de tormentos, nem quem estava no lugar de tormentos poderia ir para o lugar de consolo, conforme veremos adiante na história (não é parábola, e explicaremos o porquê) contada por Jesus sobre o Rico e Lázaro. Eram prisões das quais nem quem estava num, nem quem estava noutro lugar, poderia escapar.

Aqueles que defendem a doutrina do “Sono da Alma”, sobre a qual discorreremos adiante, passaram a usar a palavra “Sheol” como sepultura.

No dia de Pentecostes, em que aconteceu a descida do Espírito Santo, formando a Igreja, Pedro citou o Salmo 16:10

Pois não deixarás a minha alma no inferno (Hades, no original), Nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção; – Atos 2:27

Hades (grego koiné), é o mesmo que Sheol, porém a palavra usada é outra, porque o Antigo Testamento, como sabemos, foi escrito em Hebraico e Aramaico, enquanto que o Novo Testamento foi escrito em Grego Koiné.

Tártaro

Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno (Tártaro, no original grego), os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo; – 2 Pedro 2:4

Tártaro (grego koiné) é o lugar onde foram lançados os demônios que exorbitaram as normas dadas por Deus a respeito do que lhes seria permitido. Alguns levantam a hipótese, plausível, de que isso estaria ligado à corrupção de Gênesis 6, onde “os filhos de Deus […] tomaram para si mulheres (filhas dos homens) de todas as que escolheram” (v. 2). Porém como não existe fundamento primeiramente bíblico para essa afirmação, mas é relatada em um livro apócrifo, não podemos afirmar peremptoriamente que isso é verdade. Judas 6 e 7 faz um relato a respeito da situação desses anjos caídos mantidos sob prisão:

E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia; Assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregue à fornicação como aqueles, e ido após outra carne, foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno. Judas 6,7

Essa decisão de usar o mesmo nome para palavras diferentes no original (Sheol e Hades usando a mesma palavra usada para Tártaro, ou seja, inferno), deu origem a fábulas e piadas repetidas, dentro e fora da Igreja de que o Diabo comanda o Inferno onde estão as almas em tormento, sendo ele mesmo o seu algoz. Diz-se no mundo secular que “os maus descem para o Inferno, para estarem sob o domínio do Diabo; e os bons, sobem para o Céu, para estarem com Deus“.

Mas, será que Satanás tem o seu trono no “Inferno”, atormentando os que já estão mortos e em tormentos e, portanto, não são mais objeto de sua cobiça conquista e condição à perdição, ou seja, não são mais almas que ele queira tragar?

12 E ao anjo da igreja que está em Pérgamo escreve: Isto diz aquele que tem a espada aguda de dois fios: 1Conheço as tuas obras, e onde habitas, que é onde está o trono de Satanás; e reténs o meu nome, e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita. – Apocalipse 2:13

Pérgamo era a capital da Ásia Menor e, pelos relatos bíblicos, era onde estava o Trono de Satanás (diferente do Sheol/Hades/Tártaro). Estava localizada num local que hoje faz parte da Turquia.

Então o Senhor disse a Satanás: Donde vens? E respondeu Satanás ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por ela. – Jó 2:2

No Livro de Jó, quando Satanás (e os filhos – criação direta – de Deus) vieram à presenta do Altíssimo, foi-lhe perguntado de onde vinha e ele respondeu que vinha “de rodear a terra, e passear por ela“; não disse que viera de seu trono no Inferno.

Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência; – Efésios 2:2

29 Eu vo-lo disse agora antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis. 30 Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim; 31 Mas é para que o mundo saiba que eu amo o Pai, e que faço como o Pai me mandou. Levantai-vos, vamo-nos daqui. – João 14:29-31

Definitivamente, “príncipe das potestades do ar” e “príncipe deste mundo” não tem nada de “Príncipe do Inferno”.

E o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno. – Apocalipse 1:18

Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, – Filipenses 2:10

Quando se diz que alguém tem as chaves de algum lugar, quer-se dizer que esse alguém detém a propriedade e a autoridade, da mesma maneira que, aquele a quem as pessoas se ajoelham é porque, igualmente, detém o poder. Dessa forma, e em outras que citaremos adiante, na continuação desse artigo, quem detém as chaves e o poder é Jesus, não Satanás. Quem controla tudo, inclusive Sheol/Hades e Tártaro, é o SENHOR Jesus. Ademais, não há qualquer texto bíblico que fundamente a ideia de que o chefe e governante dessas áreas é Satanás.

Continua…

4 thoughts on “O Lugar dos Mortos – Antes, Agora e Depois – Parte 1

  1. Ola Sergio,
    Estou acompanhando o seu artigo (O Lugar dos Mortos) e estou apreciando muito, gostaria de fazer algumas perguntas.
    Sei que esta ‘e a primeira parte ainda, mas ja estou ansiosa para saber .

    1- Para onde vai o espirito quando a gente morre ?
    2- Qual a diferenca entre alma e espirito?
    3- Como e quando os corpos dos que morreram encontrarao seu espirito e sua alma?

    Obrigada
    Tania

    1. Olá, Tânia! Obrigado por acompanhar as publicações e por perguntar.

      Pergunta número 1:

      A ideia de que “todos os caminhos levam a Deus” é verdadeira apenas no sentido de que todos se encontrarão com Deus após a morte, variando o momento e as circunstâncias desse encontro. O capítulo 12 de Eclesiastes alerta para lembrar-se do Criador na juventude, antes que os dias difíceis cheguem (“E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu. – v 7)

      Adão perdeu o acesso à Árvore da Vida porque, ao invés de crer em Deus, desejou ser como Ele. Essa falta de fé resultou na queda. A salvação, por outro lado, sempre foi alcançada pela fé: quem creu, recebeu a vida eterna; quem não creu, sofreu castigo eterno. Após seu sacrifício, Jesus desceu ao Hades e resgatou os que morreram crendo na vinda de um Salvador, levando-os ao Paraíso.

      Embora a salvação seja pela fé, ela implica transformação. Quem crê verdadeiramente submete-se ao senhorio de Cristo e torna-se uma nova criatura, abandonando práticas antigas como matar, mentir ou adulterar. Assim, as obras não salvam, mas evidenciam a conversão genuína

    2. Resposta à pergunta número 2:

      O espírito é a parte incorruptível, mas é inseparável da alma (Só o SENHOR consegue separar, ou saber onde está a divisão entre eles (Hebreus 4:12). Quando Deus criou o homem, do barro, soprou-lhe o fôlego de vida “e o homem se tornou alma vivente”. Alma é o nosso centro nervoso, de memórias e de decisões. É a parte imaterial do nosso cérebro. É a alma que peca; e a alma que manda o corpo pecar. Quando decidimos nos render a Jesus ele transforma a nossa alma, que deixa de ser totalmente pecaminosa para ser salva (pelo sacrifício dele, não pelo que fizemos ou viermos a fazer para alcançar a salvação – o que é impossível, ou seja, nada nos pode dar o que o sacrifício de Jesus nos deu: a salvação). Quando Jesus purifica a nossa alma, nosso espírito volta a ter comunhão com Ele “E o mesmo Espírito (Santo) testifica com o nosso espírito que somos Filhos de Deus). Lembre-se que o homem (Adão) e toda a raça humana, depois do pecado no Éden, só pode ser considerado Filho de Deus se crer em jesus e aceitar seu senhorio. Quem vai para o Hades ou para o Paraíso, é esse conjunto indissolúvel: a alma e o espírito. Se a alma não for resgatada por Jesus, salva por Ele, o espírito, embora não possa pecar, segue junto com ela, pois perdeu a batalha para a carne.

    3. Resposta à pergunta número 3:

      A resposta sobre os julgamentos finais é complexa. Segundo o relato bíblico, haverá julgamento para salvos e não salvos. A questão que divide opiniões é se será na mesma ocasião ou em ocasiões diferente. A linha que defendo e sigo diz que ocorrerão em momentos diferentes e, inclusive, na Primeira Ressurreição (a dos salvos) dividida em etapas. Baseado em textos como 1 Coríntios 15:51-28 e 2 Tessalonicenses 4:13-18, os crentes do Novo Testamento, judeus e não judeus, convertidos e, portanto, parte do Corpo de Cristo, serão arrebatados ao final da Era da Igreja. Os que morreram sem Cristo permanecerão no Sheol/Hades, enquanto os vivos não alinhados a Cristo enfrentarão a Tribulação sob o governo do Anticristo. Aceitar a marca do Governo Mundial significará rejeição definitiva a Cristo e condenação eterna.

      No final da Tribulação, Jesus derrotará o Anticristo e estabelecerá seu Reino. Antes disso, os santos do Antigo Testamento e mártires da Tribulação ressuscitarão com corpos transformados, enquanto os alinhados a Cristo, que sobreviverem, entrarão no Reino com corpos normais. Durante o Milênio, os que nascerem e rejeitarem Cristo morrerão aos 100 anos, e terão alma e espírito enviados para o Lugar de Tormento, e enfrentarão a segunda ressurreição, junto com os perdidos de todas as eras, para o julgamento do Grande Trono Branco.

      Sobre a justiça divina, Deus oferece salvação pela aceitação de Cristo. Quem o rejeita, escolhe o caminho de condenação. A Primeira Ressurreição inclui Cristo, os salvos no Arrebatamento e os mártires da Tribulação; a Segunda Ressurreição será dos que rejeitaram Deus e seu plano de Salvação.

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