Nos primeiros anos do século XVI, um fervor religioso e revolucionário varria a Europa como um incêndio descontrolado. Entre as muitas correntes que emergiam na esteira da Reforma Protestante, uma se destacava pela intensidade de suas crenças e de sua determinação: os anabatistas. Em Münster, uma cidade outrora tranquila da Vestfália, a doutrina apocalíptica de um grupo ultra radical dos anabatistas encontrou terreno fértil para se transformar em uma revolta que desafiaria reis e príncipes, mergulhando a cidade em um caos absoluto.
Por outro lado, há relatos de que, alguns grupos dos anabatistas foram perseguidos, torturados e mortos, tanto pela Inquisição Católica, com o apoio dos Reformadores, quanto diretamente pelos Reformadores, que não concordavam com a doutrina sobre batismo apregoada pelos anabatistas, uma vez que a doutrina sobre batismos não foi alterada pelos Reformadores, que seguiam a mesma linha adotada pela Igreja Católica.
Liderados por figuras como Jan Matthys e seu sucessor, Jan Bockelson, um alfaiate holandês, os anabatistas tomaram controle de Münster, proclamando-a como a “Nova Jerusalém”. A cidade, cercada por muros imponentes e fortificações medievais, tornou-se um campo de batalha ideológico e físico, onde seus habitantes foram forçados a aderir a um novo modelo de sociedade. Moedas proféticas circulavam entre as mãos trêmulas dos cidadãos, cada uma trazendo mensagens sobre o fim iminente dos tempos. Em meio ao clima de fervor religioso, Bockelson consolidava seu poder, declarando-se o “Rei dos Últimos Dias”, O Messias, e instaurando uma teocracia implacável.
Nas praças de Münster, discursos inflamados ecoavam entre as construções de pedra, insuflando os cidadãos com promessas de salvação e advertências de condenação. O comércio tradicional desapareceu, substituído por um regime de comunhão de bens; a poligamia tornou-se prática comum, com Bockelson impondo sua autoridade sobre a população e tomando várias esposas. Os dissidentes eram punidos com brutalidade, e qualquer contestação ao regime era vista como um atentado contra a ordem divina.
Enquanto isso, além dos muros da cidade, os exércitos dos príncipes alemães se preparavam para pôr fim à insurreição. Após meses de cerco e fome crescente, em 1535, Münster finalmente caiu. O sonho utópico dos anabatistas terminou em sangue e fogo. Bockelson foi capturado e submetido a uma execução brutal, seu corpo exposto publicamente como aviso para futuros rebeldes. A cidade, antes tomada pela esperança e pelo fervor, foi reduzida à ruína, e seus habitantes enfrentaram represálias severas.
A Rebelião de Münster permanece como um dos episódios mais dramáticos da história europeia, um testemunho da força da fé distorcida e do poder da ideologia para moldar e destruir sociedades. Entre a promessa de um paraíso terrestre e a brutal realidade da guerra, a cidade tornou-se um símbolo da tensão entre utopia e desespero.
